quarta-feira, 24 de outubro de 2012

BRINCANDO DE SER O PITANGUY (DAS LETRAS)


Como lhes disse na postagem anterior, tenho retirado da gaveta alguns trabalhos, porque sair da gaveta é o primeiro grande passo para pessoas que estão na minha condição: A de levar a sério, o até então hobby da escrita, para tentar compartilhar de forma profissional “os meus deliciosos devaneios”.

Inicialmente, permitam que eu me explique: O “levar a sério” não implica dizer que nunca tenha tratado a escrita estando comprometimento com o resultado final do que pretendia criar. Só que eu criava tão somente para mim, sem qualquer preocupação em compartilhar com terceiros, muito menos em me tornar um escritor ou roteirista profissional.

De qualquer modo, agora estou constatando a existência de um “fenômeno” que dizem acometer os escritores em sua relação com as próprias criações. Esse fenômeno é o decorrente do “distanciamento da obra”, ocasionado principalmente em função da passagem do tempo.

Certamente vocês já ouviram aquele bom e velho brocado de que “O tempo é o senhor da razão”. E não é que para o caso em tela esse ditado popular cai como uma luva? Agora eu posso testemunhar a favor dos criadores que sempre afirmaram isso, porque atualmente, é exatamente o que estou vivenciando junto as minhas obras outrora engavetadas.

Rascunhos de roteiros de filmes, de livros, de peças de teatro, são como se não fossem totalmente meus. Obviamente reconheço minha intelectualidade neles (para o bem ou mal); mas essa percepção aparece desprovida do “amor” oriundo do envolvimento latente e imediato com a obra.

Como todos sabem, o amor é fogo que arde sem.... Puts, decalcar “aquele outro” agora é foda! O fato é que o amor criativo, por mais fugaz que seja; vai se enfraquecendo na medida em que o tempo vai passando. Poxa, até aqui, o amor é efêmero!

Em contrapartida, estou sendo acometido pelo senso crítico de uma forma ainda mais acentuada e os efeitos disso são bastante curiosos, pois, determinadas obras, que à época da sua criação, eu achava muito boas, agora percebo ser melhor que continuem a ficar no canto mais inalcançável da minha gaveta. Por outro lado, descubro coisas bem bacanas que chego a me questionar se fui eu mesmo que as escrevi. E me desculpem a babação, mas todo pai também tem o direito de lamber a sua cria. Por que só as mães?

É exatamente em torno das coisas que acho bacanas que estou me debruçando e fazendo os retoques que entendo necessários. Afinal, eu sou o tipo de criador que normalmente cria “em cima” do que imediatamente capto por aí: Um fato, uma notícia, uma pessoa, uma experiência própria ou alheia... Dessa forma, a contemporaneidade entre a percepção do objeto inspirador e o desenvolvimento da idéia, acaba sendo uma característica recorrente em minhas obras. Isso acaba por influenciar a forma com a qual desenvolvo a minha narrativa. E a forma de materializar a ideia, quando as escrevi há muito tempo atrás, pode não funcionar na atualidade.

Tirando daqui, colocando ali, modificando por acolá; eu vou realizando uma verdadeira maratona de adaptação no intuito de torná-las mais interessantes aos olhos dos meus atuais anseios.

É um trabalho que tento fazer de forma minuciosa e sem alterar a verdadeira essência das criações. Dá um trabalho danado, mas com as cautelas indispensáveis, espero que consiga torná-las joviais sem fazer parecer que usaram botox. Afinal, o amor acaba, mas o respeito sempre deve permanecer. Não é o que também diz a sabedoria popular?

Também estou no twitter: @TonnyCruzBR

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