segunda-feira, 23 de abril de 2012

A IMPORTÂNCIA DE SABER TRABALHAR EM GRUPO

Tenho postado aqui, uns textos em que critiquei a forma com a qual o roteiro é tratado no cinema. Ou melhor, a forma com a qual o roteirista é tratado. Tendo em vista que o roteiro desenvolvido por ele acaba sofrendo muitas intervenções, o que em muitas vezes, para o bem ou para o mal, praticamente acaba por terminar em um trabalho quase que coletivo.
Desta vez não quero fazer juízo de valor desta sistemática. O que me interessa demonstrar é que a dinâmica da relação com o roteirista é assim, é fato contra o qual muitos tentam se insurgir na defesa de um trabalho mais autoral, corrente na qual eu me filio. Mas meus posicionamentos não vêm ao caso agora.
O fato é que para se trabalhar na arte da escrita do audiovisual, a figura do roteirista que coloca o que é seu de forma absoluta na confecção do roteiro é algo cada vez mais raro e não é só no cinema, isso também ocorre na TV, fazendo com que o profissional tenha para si uma verdadeira missão coletiva.
Não quero aqui fazer apontamentos técnicos sobre o trabalho corporativo, porque não é a função deste espaço. Mas o que percebo é que na prática da escrita no cinema, o roteiro em fase de desenvolvimento ou definitivo, vai passar pelo crivo de vários outros profissionais, muitas vezes não necessariamente roteiristas, que irão opinar, alterar, suprimir e adicionar, sobre o que foi escrito, conforme suas convicções.  E será uma sorte se o roteirista for chamado para participar desta fase, em que ele “entregou seu filho aos leões”.
Na TV a dinâmica das coisas também é pautada com os trabalhos realizados por várias pessoas, mas a relação com os roteiristas é um pouco diferente, porque nela a interferência alheia não traz conseqüências tão atrozes.
Tomando como exemplo as novelas, os autores, os grandes “maestros de toda a orquestra”, se utilizam de colaboradores que irão desenvolver em diálogos, as cenas já pré-estabelecidas; consequentemente, os mesmos colaboradores deverão se submeter ao que lhe foi determinado, sem que venham modificar a idéia inicial, sob o risco de serem gongados. Essa é uma dinâmica que desde o início é bastante clara. Ao contrário do que ocorre no cinema, cujas interferências no roteiro por vezes são inesperadas, revelando seu lado perverso.
De qualquer forma, tanto em um veículo quanto em outro, o que se vê é uma relação de criação complexa, onde os resultados dependem, e muito, da convergência de várias opiniões. O êxito na qualidade do texto acaba sempre dependendo da boa dinâmica que se desenvolveu entre as partes envolvidas.
Vendo a coisa desse ângulo, agora eu compreendo quando uma professora minha dizia: “Tonny não se apegue tanto as suas idéias”.
Pois bem. Com tudo o que eu escrevi até agora, quero dizer que para ser um bom profissional da escrita em audiovisual, além de necessário ser bom um roteirista, se deve ter em mente que também é necessário trabalhar em equipe, porque o trabalho isolado é cada vez mais escasso e os profissionais que insistem nesta condição, correm o sério risco de serem excluídos do mercado.
É algo meio complicado de se entender, ainda mais para mim que defendo o roteiro autoral. Devo reconhecer que a habilidade de se ter um certo desprendimento das nossas idéias, também deve ser trabalhada, já que, em equipe nada vai ser imposto a contra gosto alheio e vice-versa.
Logo, o roteirista que deseja ingressar neste mercado, que funciona dessa forma; além de criativo e de ter que dominar as técnicas da roteirizarão, também deve saber trabalhar em equipe e para quem tem dificuldade de assim trabalhar, é bom começar a rever seus conceitos, porque a insistência em trabalhar absolutamente sozinho pode fazer com que o profissional seja galgado a condição de mico leão dourado de número diminuto às vias de extinção.
As questões são: Como trabalhar sabendo ouvir opiniões, sem perder sua individualidade artística? Como roteirizar para o cinema sem ser desrespeitado no que escreveu? Como desenvolver trabalhos em forma de parceria e defender o trabalho autoral?  A busca por essas respostas é o nosso grande desafio e se alguém as tiver me diz, por favor. Que tal tentar encontrá-las em grupo?


Aproveitando a postagem lembro mais uma vez o que acontece com Paulínia. Me sigam no twiiter. Abracei a causa e convido para que vocês participem também. Estou fazendo barulho por lá. É incrível, mas percebo que têm profissionais ou pretensos profissionais de cinema que estão completamente inertes. Até parece que estamos falando de algo que está a acontecer lá em Saturno. ATENÇÃO! Estamos falando daquilo que foi concebido para ser o maior centro de produção cinematográfica do País. Esse é um assunto nosso.
Já que criei uma conta por lá com vistas a fazer barulho contra a degradação do Pólo de Cinema de Paulínea, também vou aproveitá-la como instrumento de interação com vocês.
Como diria aquele personagem Giovanni e Prota do Aguinaldo Silva:
“Me sigam-me” no @TonnyCruzBR
E façam barulho também.
Aguardo vocês.

2 comentários:

  1. Acho que todo 'roteirista' gostaria de trabalhar SÓ.

    Apenas só, seja por vaidade, seja pela incapacidade enunciada no artigo de lidar com opinião/modos de trabalho/tempos alheios e poucos, pouquíssimos, pela convicção que eu defendo, que a escrita coletiva deixa de ser 'artística' (se isso é concebível no contexto das atuas produções audiovisuais), pra se tornar mecânica!

    Vc já viu, as pautas que, por exemplo, deixa um Aguinaldo Silva, para os colaboradores deles...? Além de ter uma cena, basicamente escrita (pergunta pra que o colaborador?), ele marca 11 LINHAS! E esse é o limite!

    É suprimir o ego artístico próprio em prol de um ego artístico alheio com uma maneira de dizer e fazer marcada. Vc como colaborador não existe. Existe Aguinaldo Silva, Gilberto Braga, Walter Negrão ou João Emanoel Carneiro... Vc não prova que sabe escrever. Vc prova que sabe escrever AS, GB, WN ou JEC, o que antigamente, não era 'bem visto' (pelo menos no mundo da pintura, onde havia infinidade de mestres menores que faziam imitação ou até mesmo cópias).

    Mas bem, pintura, mesmo que visual, é 'outro universo'.

    Ninguém duvida, poder se encaixar nessa 11 linhas, é prova de competência e talento, mas 'talento' PRA QUE??? Pras matemáticas, pra concertar relógios, pra cumprir com as metas e tarefas?

    Depois disso, vem ele mesmo (ou quem encabece o grupo) e faz a 'correção final' (uma espécie de 'retoque'). Ou seja: sai o texto em bruto, ele é 'elaborado' e depois, volta a ser reelaborado, pela pessoa que o criou em bruto!!! Ihhhh quantos passos, quanta irracionalidade!

    Talvez haja mais empregos, talvez mais pessoas, além das seis ou sete 'vacas sagradas da Globo', consigam, fazer por onde (ou pelo menos tentar um caminho à 'fama'/ realização), mas o resultado final, na maioria dos casos, deixa muito a desejar...

    Contrário à ideia que com 'a divisão do trabalho' a gente pode caprichar, vemos diálogos cada vez mais ruins, cenas mal desenhadas, situações forçadas e estruturas nada dinâmicas que além de não seguir à risca as técnicas do roteiro (que tem uma certa hierarquia pra cada cena, personagem ou história), se torna monôtona e torna impossível alguma alteração de última hora, sem que se altere o resto, já que o trabalho já fora distribuído e uma 'melhor opção', seria um 'barulho no sistema'.

    (Continua...)

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  2. A escrita de 'fragmentos', não deixa de ser isso... e dificilmente possa ter a organicidade e integralidade, de um trabalho escrito totalmente uma pessoa só.

    Quem é do mar não enjoa e, quem já escreveu muito sabe que apenas UMA palavra é capaz de mudar até os rumos de uma trama, independetemente, das boas e rígidas estruturas que possa ter (pois escrever sozinho não contradiz a devida programação e bom senso narrativo).

    Infelizmente, a maioria dos roteiristas de TV que aindan defendem esse esquema de trabalho, justificam a 'necessidade' de uma equipe que, aparentemente, além de fazer mais 'dinâmico' o trabalho (e vimos que não é, pois precisa de pelo menos três etapas), o torna mais 'criativo'.

    Afinal, pra um ROTEIRISTA (em maiúsculas), não há PRAZER MAIOR do que ESCREVER, ESCREVER E ESCREVER (do A ao Z, óbvio), e acho, que não há prova maior da capacidade do que fazê-lo sozinho. Se isso não acontece, se vc 'delega' (por falta de tempo, por cansaço, por esgotamento ou por necessidade de ganhar tempo), vc não corresponde à expectativa. Tampouco demonstra do que vc é capaz.

    Saudade de tempos em que uma Janete Clair ou Ivani Ribeiro, com menos laudas, mais 'inocência narrativa' e talvez poucas 'técnica', não só faziam maravilhosas histórias, mas emendavam uma com outra.

    Hoje, nem saindo cada 4 ou 5 anos, os autores globais e EQUIPE, conseguem se reciclar, caindo na mesmice e no auto-plágio.

    O desafio, pelo menos, do novelista atual é poder ENCARAR essa tarefa SÓ e SE DAR BEM, de acordo com o tempo que lhe tocou viver, com capítulos 45 laudas e 60 cenas!

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