segunda-feira, 7 de maio de 2012

CIRCUITO DE EXIBIÇÃO INFLEXÍVEL É UM GRANDE ENTRAVE NA DISTRIBUIÇÃO DE FILMES

Neste fim de semana circularam notícias dando conta de que O Sonho de um Sonhador, último filme em que o humorista Chico Anysio atuou, ainda não tem data para estrear.
O longa já está totalmente finalizado há três anos e a demora no seu lançamento reside, tão somente, no fato da película estar enfrentando dificuldades para conseguir distribuição e espaço nas salas de cinema do país.
Inobstante ao fato dos nomes envolvidos nesta produção, esta questão da dificuldade de se colocar um filme no circuito de exibição comercial é um dos fatores que fazem parte de um ciclo impeditivo no desenvolvimento do cinema nacional.
Sabendo das dificuldades a serem enfrentadas neste sentido, os produtores se preocupam em realizarem filmes autorais, destinados a circuitos alternativos ou para participação em festivais, o que os levam a apostarem em enredos destinados a agradarem jurados, ou a um nicho de público com anseio por histórias experimentais desprovidas de apelo popular.
Pode parecer piegas, mas na verdade, o povo fica excluído de todo esse processo, o que revela o lado perverso do sistema de financiamento conscrito nas leis de incentivo: Filmes são financiados com dinheiro público e ao fim, a maioria da população não tem acesso ao que se produziu.
Como conseqüência, há uma certa acomodação por parte dos produtores, que se acostumam a essa sistemática viciosa e alguns passam a viver com o “pires nas mãos” (ou seria melhor dizer cuia) em busca de financiamento público. Sem falar nos abusos cometidos, de forma excepcional – o que eu quero crer – onde já se compraram apartamentos ou montaram produtoras com o nosso dinheiro (embora eu nada prove), em descompasso com o que realmente deveria ter sido alvo do investimento recebido.
Todo esse emaranhado já solidificado, faz com que os produtores, diretores e roteiristas que pretendem, de fato, construírem um cinema feito para dar bilheteria, ainda que aliado a boa qualidade, acabem sendo vistos como praticantes do oitavo pecado capital. Porque não sei se vocês sabem, mas há um “senso comum” entre certos cineastas que acreditam que realizar um filme com o intuito de fazer bilheteria é algo tão insultuoso quanto cuspir na cruz sagrada.
Em outras palavras, para eles, carregar para si um projeto de filme tido como comercial é algo tão grotesco quanto ter em si a mais violenta das lepras (assim mesmo, pois o termo hanseníase soaria sublime demais para o caso).
É uma realidade semelhante ao do pedinte de trânsito, que passa a nutrir um ódio extremo pelo novo transeunte, que para ganhar seu dinheiro dignamente, passa a vender jornais. Angariar dinheiro, sem que se faça um trabalho como forma de contraprestação vicia e quem cai nesse vício não aceita que o seu ex-semelhante “arregace as mangas” e saia dessa “zona de conforto” mendicante.
Pois é assim que eu vejo uma boa parte dos cineastas: são todos mendicantes, que se acomodaram com as dificuldades e também as regalias do nosso sistema de financiamento.
Mais comemoremos pelo fato de que nos certames de seleção de projetos a serem contemplados com patrocínio público, ainda não se criou o sistema de “cotas” ou de “bolsas”, bem ..., é melhor eu calar a boca senão, eis que surgirá algum “sábio”, a apoiar essa idéia.
Voltando ao assunto. É necessário romper esse circulo vicioso, fazendo projetos populares e de bom gosto, exigindo sim, igualdade na luta contra os Blockbusters americanos. Caso contrário, os novos realizadores serão convocados pela velha guarda a também entrarem no meio do trânsito munidos de suas cuias, a perpetuarem de forma tenebrosa esse vício.

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