quarta-feira, 28 de março de 2012

COMO ESCREVER UMA NOVELA

O novelista Aguinaldo Silva lançou um edital que visa premiar roteiros para cinema ou telefilme e me fez lembar algo que aconteceu no ano de 2005, quando uma certa euforia estava tomando conta de alguns roteiristas que sonhavam em escrever para a televisão, sobretudo escrever novelas, por conta dos altos salários. Isto porque a Rede Record, em um lance de ineditismo para o Brasil, lançou o seu Concurso de Roteiros de Telenovelas.
Eu que estava voltado tão somente para o cinema, na condição de roteirista iniciante, embora hoje eu ainda assim me considere (só que premiado), movido pela euforia contagiosa, tratei de participar do tal concurso, porque no fundo encaro “a barba, o cabelo e o bigode”.
Lembro que sentei à mesa com um lápis e uma cartolina e tratei de elaborar a sinopse; porque eu crio sinopses em forma de esquema. Vou traçando personagens que vão se ligando como se fossem uma árvore genealógica. Eu tenho memória visual e me facilita ter a visão da história de forma esquematizada.
A história completa foi criada em pouco menos de uma manhã. Depois disso fui digitar a sinopse que já estava na minha cabeça e pimba! O computador deu pau. Tive que escrever tudo a mão e posteriormente pagar para digitar. E lembro que quando fui pegar a sinopse já digitada o rapaz da digitação me olhou com um certo brilho nos olhos e perguntou: Isso é uma história né? Que história boa, vai ser um livro é? Eu apenas dei uma tímida risada.
Mal sabia o digitador que se tratava de uma sinopse de telenovela. Mas a verdade é que pra mim eu já tinha vencido o concurso, porque já tinha passado pelo crivo de quem realmente entende do assunto: alguém do povo; que apesar de não saber do que aquilo se tratava, sabia que era algo bom.
É para o povo que as novelas são feitas; assim sempre foi e assim será. E entenda povo de uma forma desprendida daquele conceito pejorativo. Aqui entenda esta palavra, como população, habitantes do nosso País. Embora exista uma minoria que sempre ache que está na Dinamarca.
Voltando ao assunto. No edital da emissora, um dos requisitos era de que, além de entregar a sinopse, deveríamos entregar três capítulos prontos para serem gravados, ou seja, de uma forma estritamente profissional.
Eu tinha prometido a mim mesmo que só participaria do concurso se seguisse a rotina dos autores, ou seja, escrever um capítulo por dia. Desse modo, começava a escrever por volta das sete e meia da manhã; parava para almoçar, voltava a escrever e só iria terminar por volta das seis da tarde. Assim foi feito durante três dias e escrevendo tudo a mão para depois ser digitado.
No terceiro e último dia quando escrevi o “FIM DO CAPÍTULO”, senti um grande orgulho pelo fato de ter cumprido a risca o que tinha prometido a mim mesmo.
No outro dia acordei com um alívio enorme, que só não foi absoluto, porque tive uma certa inversão fisiológica, pois acordei com a munheca dura e “aquilo” mole.
O resultado do concurso todos já sabem, a vencedora foi Gisele Joras, que depois veio a escrever “Amor e Intrigas” e “Bela a Feia” e mostrou que venceu porque, ao contrário de mim, já estava pronta. Inclusive acho a primeira uma das melhores novelas da Record.
Outro dia li o que eu tinha escrito e constatei que de fato a história era muito boa e estava muito bem contada na sinopse, contudo os capítulos estavam muito ruins, neste caso tive vergonha de mim mesmo. Reconheci cada erro que cometi e não estou falando de português, estou falando da narrativa. Fui traído pela minha ansiedade. Inobstante o tempo que precisava ser cumprido, não se escreve tudo que vem a cabeça. O raciocínio é o mesmo da fala.  A gente sabe que é necessário pensar bem antes de falar. O processo da escrita deve ser algo extremamente racional, é a ponderação que pode ser o fator determinante na qualidade dos textos.
Hoje, continuo ansioso, mas já aprendi a não apresentar nada sem antes ler e reler o que foi escrito. Foi a primeira grande lição que aprendi e que pretendo seguir sempre. Logo, o título desta postagem cairia melhor se fosse “como não escrever uma novela”. Espero que todos aprendam com ele e tentem controlar a ansiedade em qualquer obra escrita que venha a ser apresentada a terceiros, principalmente se for para um concurso.
Enfim, eu respondo a pergunta da postagem anterior. Eu já escrevi novela? Não, mas por tudo que foi dito, posso dizer que passei o dedo no bolo e senti o gostinho.

Um comentário:

  1. Sensacional... amei ler seu texto e sua experiência de vida.. isso que eu lí aqui vai me ajudar e muito... muito obrigado

    ResponderExcluir